Filho de um casal goiano, ele, fiscal da Secretaria da Fazenda; ela, auxiliar de cartório, Édson Flávio Silva Coutinho nasceu em 1983 na lendária Cidade de Goiás, berço de poetas, sinos coloniais e casarios de pedra, hoje tombada como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Desde o berço, já parecia feito de inquietação e lucidez: aos dois anos e meio, cruzava os portões da escola, como se pressentisse que o saber seria seu maior aliado na travessia da vida.
O destino, com sua vocação de revirar mapas, levou a família para o sul do Pará em outubro de 1986. Em Xinguara, cidade promissora e agreste, o pai comprou uma fazenda, e passou a estudar na “Escolinha Sossego da Mamãe”. Quando o transporte falhava, os próprios donos da escola vinham buscá-lo em casa, gesto que dizia mais sobre a dedicação ao menino do que qualquer boletim.
A vida, como a história, alterna seus capítulos com alegrias e perdas. Em 1989, com a iminência do nascimento da irmã, a família retornou por breve período à terra natal. Lá, ainda pequeno presenciou, sem talvez compreender por inteiro, a partida da avó e a chegada da irmã, a morte e a vida, em sua dança eterna, tão próximas no calendário quanto na alma.
Em 1999, Goiás outra vez. A família buscava oportunidades e estabilidade. Em 2003, empreendia sua jornada universitária ao ingressar no curso de Direito da Universidade Salgado de Oliveira. Mas o destino, como um examinador severo, lhe aplicaria a prova mais difícil fora dos bancos escolares: o pai adoeceu gravemente, e a economia do lar ruiu.
Foi nesse momento que o estudante virou office boy, e o sonho precisou andar de bicicleta, literalmente. Sob sol ou chuva, percorria farmácias, entregas, tarefas. Chegou a perder sua bicicleta em um furto, mas não perdeu o ânimo. Comovidos, os tios Jorge e Marly lhe deram uma nova, símbolo de apoio e persistência.
A batalha se transformou em aprendizagem. Panfletou nas ruas, abraçou o ofício com humildade e esperança. Mais tarde, conseguiu vaga na Faculdade Uni-Anhanguera, beneficiando-se de uma bolsa parcial e do apoio fundamental da tia Maria das Graças. Os degraus, embora íngremes, começaram a fazer sentido.
Em 2008, estagiando sem remuneração, mergulhou no mundo jurídico como quem reconhece o solo onde seus pés sempre quiseram pisar. Logo, foi convidado a assumir um estágio remunerado. Estava pronto. Formou-se em 2014 e obteve a tão sonhada OAB, tornando-se advogado em Goiânia.
Mas ainda faltava algo. O verdadeiro chamado viria de onde as raízes haviam sido fincadas: Xinguara, terra vermelha, calor intenso, gente forte. O convite dos tios Osvaldinho e Fátima para atuar na Prefeitura local o fez voltar — não por nostalgia, mas por missão.
Ali, o menino que fora buscado pela diretora da escolinha agora assinava pareceres, advogava causas públicas, e via crescer, ao seu redor, uma nova geração: seus filhos, Davi Luiz e Theodoro, herdeiros de uma trajetória feita de luta, estudo e fé no amanhã.
Em 2024, foi nomeado Procurador do Município de Xinguara, coroando uma jornada que nunca deixou de ser trilhada com humildade e idealismo. E no início de 2025, pelas mãos generosas do amigo e renomado advogado Dr. Cícero Sales, ex-presidente da OAB local e referência no Direito Público , foi indicado para assumir nova missão: Procurador do Município de Água Azul do Norte.
Água Azul do Norte, pequena em tamanho, grande em desafios. Terra de gente trabalhadora e espírito comunitário. Lá, iniciou um novo capítulo, consciente de que o Direito, mais do que técnica, é compromisso com o bem comum.
Hoje, ao olhar para trás, carrega a certeza de que a vida não lhe foi fácil, e ainda assim foi justa. Porque foi a dificuldade que lhe forjou o caráter, a persistência que lapidou a vocação, e o afeto de muitos que tornou possível cada passo.
Assim como nas grandes biografias, a sua é feita não apenas de feitos públicos, mas de silêncios privados, de lutas anônimas, de escolhas que não cabem num currículo, mas que definem uma vida inteira.